Livro sobre o faquirismo feminino é lançado na Expo Vintage 2015


Durante a Expo Vintage será lançado o livro “Cravo na Carne – Fama e Fome”, de Alberto de Oliveira e Alberto Camarero, publicado pela Editora Veneta. Trata-se do resultado de extensa pesquisa realizada pelos autores sobre o faquirismo feminino no Brasil. A obra conta as histórias de onze mulheres que se exibiram em provas de jejum no país entre os anos 20 e 50 do século XX. Saiba mais no blog do livro

O faquirismo feminino no Brasil
Durante muitos anos, ao longo do século XX, foram populares no cenário artístico brasileiro os faquires, homens que, na maioria das vezes, se exibiam encerrados em urnas de cristal, deitados sobre pregos ou cacos de vidro, cercados por serpentes, jejuando durante longos períodos, expostos à curiosidade pública em saguões de teatro e cinema, salões comerciais, galerias ou pavilhões montados em terrenos baldios especialmente para esse fim.
Alguns se propunham a bater o recorde mundial de jejum e tortura nas grandes capitais e ao fim de suas provas, eram consagrados como glórias nacionais e aclamados feito verdadeiros heróis. Entre esses, se destacaram os faquires Silki, Urbano e Lookan, famosos no país nos anos 50.
Outros se contentavam em realizar exibições de menor duração em cidades interioranas Brasil adentro e conquistar apenas a fama local, garantindo pelo menos a sobrevivência.
Nesse meio predominantemente masculino, também algumas mulheres se dedicavam à exótica profissão. Eram chamadas faquiresas e, assim como os homens, enfrentavam o encarceramento, os pregos e cacos de vidro, as cobras e, claro, a fome.
Disputavam entre si o recorde mundial feminino de jejum e tortura e ofereciam ao público ainda mais atrativos do que os faquires do sexo masculino, sensualizando suas exibições com trajes de odalisca e biquínis sumários como os das vedetes do teatro de revista, com as quais muito se assemelhavam.
A ousadia de ser faquiresa, em uma época em que ser atriz ou cantora já era o bastante para que uma mulher fosse discriminada pela sociedade moralista de então, cobrava um preço alto dessas artistas.
A aura de mistério e tragédia que envolvia suas provas de jejum e tortura extrapolava os limites da arte e atingia suas vidas pessoais, sempre romanescas.
Quem foram Rose Rogé, Gitty, Arady Rezende, Zaida, Rossana, Mara, Iliana, Yone, Marciana, Verinha e Suzy King, heroínas do passado esquecidas por décadas nas páginas dos jornais antigos?
Corajosas, transgressoras e muito à frente do tempo em que viveram, as faquiresas trazem à tona, em suas trajetórias, as dores e as delícias da condição da mulher independente nas seis primeiras décadas do século passado.
Costurando trechos de jornais e revistas da época e contando com vasto material iconográfico, “Cravo na Carne – Fama e Fome”, contemplado com o Prêmio Funarte Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo 2013 quando ainda era inédito, apresenta ao leitor uma parte praticamente desconhecida da memória artística nacional.