Durante a Expo Vintage será lançado o livro “Cravo na Carne – Fama e Fome”, de Alberto de Oliveira e Alberto Camarero, publicado pela Editora Veneta. Trata-se do resultado de extensa pesquisa realizada pelos autores sobre o faquirismo feminino no Brasil. A obra conta as histórias de onze mulheres que se exibiram em provas de jejum no país entre os anos 20 e 50 do século XX. Saiba mais no blog do livro.
O faquirismo
feminino no Brasil
Durante muitos anos, ao longo do século XX,
foram populares no cenário artístico brasileiro os faquires, homens que, na
maioria das vezes, se exibiam encerrados em urnas de cristal, deitados sobre
pregos ou cacos de vidro, cercados por serpentes, jejuando durante longos
períodos, expostos à curiosidade pública em saguões de teatro e cinema, salões
comerciais, galerias ou pavilhões montados em terrenos baldios especialmente
para esse fim.
Alguns se propunham a bater o recorde mundial
de jejum e tortura nas grandes capitais e ao fim de suas provas, eram
consagrados como glórias nacionais e aclamados feito verdadeiros heróis. Entre
esses, se destacaram os faquires Silki, Urbano e Lookan, famosos no país nos
anos 50.
Outros se contentavam em realizar exibições de
menor duração em cidades interioranas Brasil adentro e conquistar apenas a fama
local, garantindo pelo menos a sobrevivência.
Nesse meio predominantemente masculino, também
algumas mulheres se dedicavam à exótica profissão. Eram chamadas faquiresas e,
assim como os homens, enfrentavam o encarceramento, os pregos e cacos de vidro,
as cobras e, claro, a fome.
Disputavam entre si o recorde mundial feminino
de jejum e tortura e ofereciam ao público ainda mais atrativos do que os
faquires do sexo masculino, sensualizando suas exibições com trajes de odalisca
e biquínis sumários como os das vedetes do teatro de revista, com as quais
muito se assemelhavam.
A ousadia de ser faquiresa, em uma época em que
ser atriz ou cantora já era o bastante para que uma mulher fosse discriminada
pela sociedade moralista de então, cobrava um preço alto dessas artistas.
A aura de mistério e tragédia que envolvia suas
provas de jejum e tortura extrapolava os limites da arte e atingia suas vidas
pessoais, sempre romanescas.
Quem foram Rose Rogé, Gitty, Arady Rezende,
Zaida, Rossana, Mara, Iliana, Yone, Marciana, Verinha e Suzy King, heroínas do
passado esquecidas por décadas nas páginas dos jornais antigos?
Corajosas, transgressoras e muito à frente do
tempo em que viveram, as faquiresas trazem à tona, em suas trajetórias, as
dores e as delícias da condição da mulher independente nas seis primeiras
décadas do século passado.
Costurando trechos de jornais e revistas da
época e contando com vasto material iconográfico, “Cravo na Carne – Fama e
Fome”, contemplado com o Prêmio Funarte Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo
2013 quando ainda era inédito, apresenta ao leitor uma parte praticamente
desconhecida da memória artística nacional.